AIP alerta para urgência em reforçar impacto dos fundos europeus na produtividade nacional

O Presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP) defendeu esta quinta-feira, 21 de novembro de 2025, nas Conferências de Outono, em Anadia, a necessidade urgente de reorientar a aplicação dos fundos estruturais europeus para um verdadeiro aumento da produtividade e da competitividade da economia portuguesa.


Ao longo da sua intervenção, recordou que Portugal recebeu cerca de 152 mil milhões de euros em fundos europeus desde 1989, dos quais 86 mil milhões entre 2000 e 2020, sublinhando que, apesar desta magnitude, “o desempenho económico do país ficou muito aquém do desejável, sobretudo no que respeita à produtividade”.


Segundo a AIP, cerca de 43 mil milhões de euros foram canalizados para as empresas, apoiando em média 19 mil entidades por ano, número que no quadro comunitário PT2020 chegou às 44 mil empresas, devido aos apoios REACT. Ainda assim, o crescimento da produtividade tem vindo a desacelerar de forma significativa ao longo das últimas décadas.


“A competitividade de um país é condicionada pela sua produtividade. Sem um crescimento sustentado da produtividade não conseguiremos convergir com a União Europeia, nem garantir melhores salários e maior bem-estar para as famílias portuguesas”, afirmou o Presidente da AIP.

O dirigente destacou ainda a preocupante disparidade entre Portugal e outros países europeus, apontando que a produtividade industrial nacional representa apenas 23% daquela que é registada na República Checa, reforçando a urgência em investir numa base industrial mais forte, inovadora e orientada para as exportações.


Apesar deste contexto, o Presidente da AIP sublinhou a resiliência do tecido empresarial nacional, em particular das grandes, médias e uma parte significativa das pequenas empresas, que, nos últimos 15 anos, superaram sucessivas crises — desde a crise financeira internacional à pandemia e às atuais tensões geopolíticas — registando aumentos de 41% no VAB, 33% no volume de negócios, 29% nas exportações e 10% no emprego, bem como um crescimento de 36% no número de empresas exportadoras.


A maior atratividade dos incentivos associados ao PRR poderá estar a influenciar a dinâmica de apresentação de candidaturas no âmbito do Portugal 2030, cuja taxa de execução se encontra baixa.


A reprogramação associada à iniciativa europeia STEP, que absorveu 1,2 mil milhões de euros — cerca de 30% do orçamento do COMPETE 2030, foi outro ponto crítico destacado pela AIP.


“Dada a estrutura do tecido empresarial português, existe um risco real de subutilização destas verbas, caso não haja uma mobilização eficaz das empresas nacionais e uma forte componente de captação de investimento estrangeiro”, alertou o Presidente.


No que diz respeito ao PRR, foi reconhecido o seu papel como instrumento de estímulo económico, com destaque para a atuação do Banco Português de Fomento, que disponibilizou cerca de 3 mil milhões de euros em garantias pré-aprovadas a aproximadamente 125 mil empresas, facilitando o acesso ao financiamento para projetos estruturantes.


Contudo, a AIP alertou que persistem desequilíbrios no acesso aos instrumentos de capital, verificando-se uma forte concentração das operações em mid caps e médias empresas, ficando as micro e pequenas empresas praticamente excluídas. A resistência à diluição do capital continua a ser um dos principais entraves à utilização destes mecanismos.


As Conferências de Outono 2025 encerraram assim com um apelo claro da Associação Industrial Portuguesa a uma utilização mais estratégica, eficiente e orientada para resultados dos fundos europeus, colocando o aumento da produtividade no centro das políticas públicas nacionais e europeias.